domingo, 28 de abril de 2013

Moraes Moreira - Mancha de Dendê Não Sai (1984)

OK, esse disco é sensacional! Sendo assim e como estou empolgado, vou me estender um pouco nos comentários.
Lançado em 1984, o disco inicialmente despertou nosso interesse porque tem uma parceria com Leminski, Mancha de Dendê Não Sai. Atentem, essa faixa, que abre o lado B, é a mesma que da nome ao Lp. Aqui Moraes segue na sua linha bem brasileira, mesclando gêneros, distribuídos por todo o disco. Podem-se ouvir sambas, frevos, maracatus, marchinhas, baiões etc.
Politizado, trata de questões como a expropriação dos recursos naturais do "Brasil" por parte do velho continente. É ocaso de Cordão de Ouro. Brasil com aspas, porque quando foi colonizada a região onde hoje é o Brasil não tinha esse nome, é claro. O nome "Brasil" veio a partir da exploração do pau-brasil, que, por sua vez, tem esse nome poque tem a cor de brasa.
A elite europeia "se pirava" com a cor vermelha. A faixa Índio Indo lembra da violência sofrida pelos índios que viviam em solo tupiniquim, quando chegaram os europeus.
Achei interessante uns versos de Carro Alegórico, que me lembraram o "trocadilho" de um poema de Leminski. A letra da canção: "A rosa ainda é/Uma mania/Agrada o grego/E agrada a negra". E o poema de La Vie En Close: "nu como um grego/ouço um músico negro/e me desagrego."
Difícil é qualificar Mancha de Dendê Não Sai, não que eu ache que se deve qualificar tudo, mas é legal buscar influências. Pra mim, essa música é o que alguns chamam de maracatufunk. Se o ritmo se aproxima muito do funk americano, ao bom estilo James Brown, sua orquestração, de uma percussividade eletrônica saliente, bem década de oitenta mesmo, lembra os experimentos da banda Tears For Fears. Como exemplo ouçam a batida de Give It Up Or Turnit A Loose, de J. Brown e Start Of The Brakdown, do Tears, esta última, aliás, com um solo de percussão bastante próximo ao solo de Mancha... Não bastasse tudo isso, tem aquele lance de "um maracatu pra tu", do final da letra, que é o que nos remete ao maracatu. Além de toda a percussão, é claro. Por outro lado, o balanço, a letra, a melodia mole, em quartas, e o próprio ritmo, pensando em alguns acentos, estão mais pra uma capoeira do que pra qualquer outra coisa. Só faltou o berimbau. É uma briga contra a mancha, cai ou não cai, maninha? No final a mancha fica de pé (mas não desmancha prazer)! Existe uma outra gravação de Mancha, no disco 50 carnavais, que desenhará melhor toda essa mistura. Na primeira seção, o agogô segue a linha bem característica do maracatu. Já na segunda seção, aparece o ritmo bem claro do berimbau, feito pelo baixo e pela guitarra.
Cansei. Resumindo, é uma bela música, talvez a melhor da dupla Moraes/Leminski. Quem puder, ouça.

lmsk (mp3 + imagens)

a música no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=04Tk6AMIuOQ

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá. Para comentários, use o nosso mural:
http://liricoleminski.blogspot.com.br/search/label/%5Bmural%5D.
Obrigado!