terça-feira, 11 de março de 2014

A Chave - O Sonho do Som Elétrico

A Chave - O Sonho do Som Elétrico [1]

P. Leminski

Enquanto o compacto do conjunto “A Chave”, de Curitiba, ainda está quente no forno, algumas considerações sobre esses músicos que, há 6 bons anos, no mínimo, vêm mantendo aceso o sonho de um som elétrico em Português, nesta região tão distante do eixo Rio-São Paulo, onde as coisas acontecem.
“A Chave” (Orlando, Ivo, Paulinho e Carlão) é mais um conjunto de roque nacional? “A Chave” não é apenas mais um conjunto de roque nacional. É mais um porque usam o clássico voz-guitarra-baixo-bateria que, desde Beatles e Stones, são os ingredientes desse prato de alta voltagem. Não é apenas mais um conjunto de roque porque seu compromisso é com a produção de um som em português. Ligado à realidade brasileira. Refletindo e criticando a sociedade de consumo que aí está, em suas contradições, ridículos, mitos e neuroses.
Humor. Violência. Sarcasmo. Brutalidade.
O 1° compacto (depois de anos de luta e espera) traz “Me provoque pra ver” e “Buraco no coração” (letras minhas).
É claro que perante um produto cultural-industrial como esse, sempre a gente vai colocar a questão da legitimidade do roque como manifestação autenticamente brasileira.
Mas essa discussão nasce sempre viciada por esquemas artesanais, pré-industriais, nostálgicos. Como se a cultura brasileira fosse um objeto de substância rara que tivesse que ser preservado de influências estrangeiras e de ataques de corsários franceses, holandeses, ingleses, fenícios...
Mas “A Chave” tenta a difícil antropofagia (no sentido de Oswald de Andrade): assimilação crítica, grossa e debochada do aporte exterior. Se isso não basta, então, não basta.
Mas procurem ouvir o disco.
É, como dizem por aí, um barato.

NOTA:

1 - Folha de Londrina, 22 nov. 1977 “'A Chave': O sonho do som elétrico.”

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